
Durante muito tempo, não percebi que estava num processo de autodestruição. Achava que era apenas ansiedade, stress acumulado, fases más da vida. Hoje consigo ver com clareza que a ansiedade, quando não é tratada, não fica parada, ela avança, corrói e transforma-se num desgaste contínuo da nossa mente e do corpo.
Este texto não é sobre extremos nem dramatismos. É sobre o que acontece lentamente, quase sem darmos conta, quando vivemos em modo de sobrevivência durante demasiado tempo.

O que entendo hoje por autodestruição
Para mim, a autodestruição não apareceu como algo óbvio. Não foi um colapso imediato. Foi um conjunto de pequenos comportamentos repetidos todos os dias:
ignorar sinais do corpo
normalizar o cansaço e sintomas constantes
aceitar a ansiedade como parte da minha identidade
exigir de mim mais do que era razoável
A ansiedade ensinou-me a funcionar em piloto automático. E esse funcionamento contínuo acabou por me levar ao princípio do descalabro psicológico e físico.
A autodestruição psicológica que a ansiedade foi criando em mim
Viver constantemente em alerta
Durante muitos anos, vivi com a sensação de que algo estava sempre prestes a correr mal. Mesmo quando tudo parecia estável, a minha mente procurava problemas. Esse estado permanente de alerta tornou-se exaustivo.
A ansiedade colocou o meu cérebro num ciclo de vigilância constante. Com o tempo, isso levou-me a destruir-me psicologicamente, porque nunca havia descanso mental verdadeiro.
A voz interna tornou-se o meu maior inimigo
A ansiedade alimentou uma voz crítica dentro de mim. Tudo era analisado, revisto, corrigido. Nada era suficiente. Comecei a acreditar que:
precisava de fazer mais
não podia falhar
descansar era sinal de fraqueza
Esta autocrítica constante foi uma das formas mais profundas de autodestruição. Não vinha de fora. Vinha de mim para mim.
O evitamento foi encolhendo a minha vida
Para evitar ansiedade, comecei a evitar situações. Primeiro algumas, depois muitas. Aos poucos, a minha vida ficou mais pequena. Menos convites, menos decisões, menos riscos.
Sem me aperceber, estava a permitir que a ansiedade decidisse por mim. E isso foi uma forma clara de autodestruição emocional: abdicar da vida para não sentir desconforto.
A autodestruição física que ignorei durante demasiado tempo
O corpo começou a dar sinais
A ansiedade não ficou só na cabeça. O corpo começou a falar:
dores musculares constantes
tensão no corpo
problemas digestivos
fadiga que não passava com descanso
Ignorei tudo. Disse a mim próprio que era “normal”. Hoje sei que era o corpo a reagir à minha luta contínua.
Viver com cortisol elevado tornou-se o normal
Durante muito tempo vivi com níveis elevados de stress. Dormia mal, acordava cansado, sentia o coração acelerado sem motivo aparente.
Este estado constante desgasta o organismo. A ansiedade prolongada empurra o corpo para a autodestruição física, enfraquecendo o sistema imunitário, aumenta a probabilidade de ter outros problemas e dificulta a recuperação.
Estratégias de alívio que só pioraram tudo
Para aliviar a ansiedade, recorri a hábitos que me davam alívio imediato:
comer sem fome
adiar exercício
usar distrações constantes
ignorar necessidades básicas
Nada disto resolveu o problema. Pelo contrário, reforçou o ciclo de autodestruição, porque o alívio era temporário e a ansiedade regressava sempre.
Porque é que a autodestruição se tornou um padrão
A ansiedade convenceu-me de que precisava de estar sempre alerta. Acreditei que pensar em tudo me protegia. Que antecipar o pior me tornava responsável.
Na realidade, estava apenas a alimentar a autodestruição. Quanto mais tentava controlar, mais preso ficava ao medo.
Além disso, muitos destes comportamentos são socialmente aceites. Trabalhar demais, nunca parar, aguentar tudo, tudo isto é visto como força, quando muitas vezes é apenas autodestruição disfarçada.
Como comecei a tentar combater a autodestruição causada pela ansiedade
Reconhecer é o ponto de viragem
O primeiro passo é admitir que estás num ciclo de autodestruição. Não por fraqueza, mas por falta de ferramentas. Este reconhecimento muda tudo.
Aprender a abrandar sem culpa
Comecei a reduzir a autoexigência diária. A permitir-me descansar. A aceitar que não preciso de estar sempre alerta e a produzir.
Este simples ajuste foi um travão importante na autodestruição emocional.
Ensinar o meu corpo a sentir segurança
Percebi que precisava de acalmar o sistema nervoso, não apenas os pensamentos. Pequenas práticas fizeram diferença:
caminhar ao ar livre
respirar de forma consciente
respeitar o sono
mover o corpo sem objetivos extremos
Estas ações ajudaram-me a sair do modo de sobrevivência e a interromper a autodestruição física.
A autodestruição não define quem sou
A ansiedade levou-me à autodestruição, sim. Mas não me define. Foi um processo aprendido, não uma sentença.
Hoje sei que cuidar da saúde mental é um trabalho contínuo, feito de pequenas escolhas diárias. Interromper a autodestruição não acontece de um dia para o outro, mas acontece sempre que escolho cuidar em vez de resistir.
Este caminho não é sobre eliminar a ansiedade. É sobre deixar de permitir que ela me destrua lentamente.
