Autodestruição: Como a ansiedade me foi desgastando por dentro e por fora

Durante muito tempo, não percebi que estava num processo de autodestruição. Achava que era apenas ansiedade, stress acumulado, fases más da vida. Hoje consigo ver com clareza que a ansiedade, quando não é tratada, não fica parada, ela avança, corrói e transforma-se num desgaste contínuo da nossa mente e do corpo.

Este texto não é sobre extremos nem dramatismos. É sobre o que acontece lentamente, quase sem darmos conta, quando vivemos em modo de sobrevivência durante demasiado tempo.

autodestruicao

O que entendo hoje por autodestruição

Para mim, a autodestruição não apareceu como algo óbvio. Não foi um colapso imediato. Foi um conjunto de pequenos comportamentos repetidos todos os dias:

  • ignorar sinais do corpo

  • normalizar o cansaço e sintomas constantes

  • aceitar a ansiedade como parte da minha identidade

  • exigir de mim mais do que era razoável

A ansiedade ensinou-me a funcionar em piloto automático. E esse funcionamento contínuo acabou por me levar ao princípio do descalabro psicológico e físico.

A autodestruição psicológica que a ansiedade foi criando em mim

Viver constantemente em alerta

Durante muitos anos, vivi com a sensação de que algo estava sempre prestes a correr mal. Mesmo quando tudo parecia estável, a minha mente procurava problemas. Esse estado permanente de alerta tornou-se exaustivo.

A ansiedade colocou o meu cérebro num ciclo de vigilância constante. Com o tempo, isso levou-me a destruir-me psicologicamente, porque nunca havia descanso mental verdadeiro.

A voz interna tornou-se o meu maior inimigo

A ansiedade alimentou uma voz crítica dentro de mim. Tudo era analisado, revisto, corrigido. Nada era suficiente. Comecei a acreditar que:

  • precisava de fazer mais

  • não podia falhar

  • descansar era sinal de fraqueza

Esta autocrítica constante foi uma das formas mais profundas de autodestruição. Não vinha de fora. Vinha de mim para mim.

O evitamento foi encolhendo a minha vida

Para evitar ansiedade, comecei a evitar situações. Primeiro algumas, depois muitas. Aos poucos, a minha vida ficou mais pequena. Menos convites, menos decisões, menos riscos.

Sem me aperceber, estava a permitir que a ansiedade decidisse por mim. E isso foi uma forma clara de autodestruição emocional: abdicar da vida para não sentir desconforto.

A autodestruição física que ignorei durante demasiado tempo

O corpo começou a dar sinais

A ansiedade não ficou só na cabeça. O corpo começou a falar:

  • dores musculares constantes

  • tensão no corpo

  • problemas digestivos

  • fadiga que não passava com descanso

Ignorei tudo. Disse a mim próprio que era “normal”. Hoje sei que era o corpo a reagir à minha luta contínua.

Viver com cortisol elevado tornou-se o normal

Durante muito tempo vivi com níveis elevados de stress. Dormia mal, acordava cansado, sentia o coração acelerado sem motivo aparente.

Este estado constante desgasta o organismo. A ansiedade prolongada empurra o corpo para a autodestruição física, enfraquecendo o sistema imunitário, aumenta a probabilidade de ter outros problemas e dificulta a recuperação.

Estratégias de alívio que só pioraram tudo

Para aliviar a ansiedade, recorri a hábitos que me davam alívio imediato:

  • comer sem fome

  • adiar exercício

  • usar distrações constantes

  • ignorar necessidades básicas

Nada disto resolveu o problema. Pelo contrário, reforçou o ciclo de autodestruição, porque o alívio era temporário e a ansiedade regressava sempre.

Porque é que a autodestruição se tornou um padrão

A ansiedade convenceu-me de que precisava de estar sempre alerta. Acreditei que pensar em tudo me protegia. Que antecipar o pior me tornava responsável.

Na realidade, estava apenas a alimentar a autodestruição. Quanto mais tentava controlar, mais preso ficava ao medo.

Além disso, muitos destes comportamentos são socialmente aceites. Trabalhar demais, nunca parar, aguentar tudo, tudo isto é visto como força, quando muitas vezes é apenas autodestruição disfarçada.

Como comecei a tentar combater a autodestruição causada pela ansiedade

Reconhecer é o ponto de viragem

O primeiro passo é admitir que estás num ciclo de autodestruição. Não por fraqueza, mas por falta de ferramentas. Este reconhecimento muda tudo.

Aprender a abrandar sem culpa

Comecei a reduzir a autoexigência diária. A permitir-me descansar. A aceitar que não preciso de estar sempre alerta e a produzir.

Este simples ajuste foi um travão importante na autodestruição emocional.

Ensinar o meu corpo a sentir segurança

Percebi que precisava de acalmar o sistema nervoso, não apenas os pensamentos. Pequenas práticas fizeram diferença:

  • caminhar ao ar livre

  • respirar de forma consciente

  • respeitar o sono

  • mover o corpo sem objetivos extremos

Estas ações ajudaram-me a sair do modo de sobrevivência e a interromper a autodestruição física.

A autodestruição não define quem sou

A ansiedade levou-me à autodestruição, sim. Mas não me define. Foi um processo aprendido, não uma sentença.

Hoje sei que cuidar da saúde mental é um trabalho contínuo, feito de pequenas escolhas diárias. Interromper a autodestruição não acontece de um dia para o outro, mas acontece sempre que escolho cuidar em vez de resistir.

Este caminho não é sobre eliminar a ansiedade. É sobre deixar de permitir que ela me destrua lentamente.

 

 

 

 

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