Palpitações e Ansiedade

Desde que me tornei num jovem adulto, por volta dos 20 anos, comecei a notar sinais de que algo não estava bem. O que inicialmente pareciam ser apenas as normais preocupações típicas da juventude rapidamente se transformaram em algo bem mais intenso. As palpitações apareciam por vezes, ainda que de forma tímida.

Agora, depois dos 40 anos, tenho duas décadas de experiência e convívio com a ansiedade generalizada, um transtorno que transformou cada aspeto da minha existência de uma forma que nunca poderia ter imaginado.

O Que São Palpitações?

Para tentar entender o que sinto, é fundamental compreender minimamente o que são as tais palpitações, essas batidas que se sentem pelo corpo.

As palpitações são sensações onde sentimos o nosso coração a bater de uma forma mais forte, mais rápida ou de forma irregular em qualquer parte do nosso corpo.

Nos momentos em que estamos em repouso, esses batimentos podem tornar-se tão intensos que parecem fazer eco na nossa consciência, capturando toda a nossa atenção, levando o nosso cérebro a interpretar esses sinais como algo de terrível.

Embora as palpitações possam ser desencadeadas por fatores físicos, como exercício físico ou excesso de cafeína, no contexto da ansiedade, elas surgem como um reflexo direto do nosso estado psicológico sem motivo aparente.

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Palpitações: A Manifestação Física da Ansiedade

As palpitações são para mim um dos sintomas mais tangíveis da minha ansiedade. Elas transformam o que deveria ser um simples batimento cardíaco num alarme estrondoso e ininterrupto, dizendo para mim próprio que algo não está certo.

Essas sensações tornam-se uma metáfora palpável do tumulto interno que enfrento, onde cada batida no meu peito é um lembrete da luta constante entre a minha mente e meu corpo.

 

O Impacto das Palpitações na minha vida

O impacto das palpitações na vida diária é bastante profundo. Elas podem surgir nos mais banais momentos da minha rotina diária, durante um dia de trabalho em que sinto o coração nos dedos enquanto escrevo no teclado, quando vejo televisão com o meu filho, em que as pernas ganham vida própria com o pulsar do coração, ou no silêncio da noite em que sinto o coração a palpitar no ouvido encostado à almofada como um autêntico relógio antigo.

Estes episódios não são apenas desconforto físico, são também desconforto mental que contribui para um estado de alerta constante, onde estou sempre à espera do próximo sinal de alarme do meu próprio corpo e consequentemente, novos episódios de ansiedade intensa e por vezes ataques de pânico.

Estratégias para Enfrentar

Ao longo dos anos, desenvolvi uma caixa de ferramentas de estratégias para lidar com minha ansiedade, como que um canivete suíço para as palpitações.

Respirar fundo e desviar o foco das palpitações ajuda-me a reduzir a intensidade dos batimentos cardíacos, ou pelo menos a não estar consecutivamente a pensar que eles estão ali e que são palpáveis através do meu corpo.

Passar tantos anos com palpitações, fez-me aprender a ignorar a sensação de ter um autêntico tambor no meu peito, cabeça ou membros, ainda que por vezes se tornem autênticos pesadelos, principalmente quando as palpitações são irregulares, dando a sensação que o nosso coração tem paragens aleatórias, fazendo lembrar uma autêntica montanha-russa.

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O Papel do Apoio

Nesta minha caminhada, o papel da família é inestimável. A minha esposa e o meu filho oferecem um suporte que transcende o convencional, sem julgamentos e incompreensão.

Eles, cada um à sua maneira entendem os desafios da ansiedade e das palpitações, fornecendo um ambiente de amor e compreensão, que não é fácil encontrar, principalmente quando existe falta de informação de um assunto que ainda é tabu para muitos.

Nos momentos mais difíceis, eles são os faróis que me guiam de volta à serenidade, lembrando-me que existe sempre algo que me faz sorrir.

 

Viver com Ansiedade Generalizada e Palpitações

Viver com ansiedade generalizada e ter palpitações regularmente é um desafio difícil e de batalha contínua.

Cada dia nasce com o seu próprio conjunto de obstáculos e oportunidades de crescimento.

Aprendi a ver estas experiências não apenas como sintomas de um transtorno, mas como parte integrante da minha vida enquanto ser humano.

Elas ensinaram-me a ser mais resiliente, a ter mais empatia e a compreender a complexa interação entre a minha mente e o meu corpo.

Para aqueles que também partilham esta experiência, é fundamental reconhecer que, embora os nossos corações possam por vezes bater de forma alarmante, eles também pulsam com coragem, força e com capacidade para enfrentar cada novo dia com determinação e esperança.

Juntos, aprendemos, partilhamos e podemos navegar pelas águas turbulentas da ansiedade, encontrando momentos de calma e clareza no meio da tempestade constante das palpitações.

E lembra-te… a ansiedade e os ataques de pânico são apenas capítulos e não a história completa.

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