
Sempre disse que enfrentar e combater os ataques de pânico é como estar numa batalha constante perante uma sombra invisível, que à primeira oportunidade nos ataca.
Essa sombra pode aparecer a qualquer momento sem aviso prévio da nossa vida, transformando momentos comuns em episódios dignos de um filme de terror, despoletando os nossos medos mais intensos e uma impotência desesperante perante algo que não entendemos.
A minha história de como controlar os ataques de pânico é uma história de longo confronto, muita aprendizagem e também de esperança.
Reconhecer e Aceitar: O Primeiro Passo rumo à vitória
A minha história começa na extrema e dolorosa complexidade da negação. Conseguir admitir para mim mesmo que os episódios recorrentes de pânico não eram apenas “nervosismo” e “coisas da minha cabeça” foi talvez o meu maior desafio na fase aguda do transtorno.
Penso que o facto de vivermos numa sociedade que muitas vezes estigmatiza a saúde mental tornou a aceitação desta condição um processo ainda mais difícil de que já era, ainda para mais numa altura em que os transtornos mentais eram vistos como “coisas do diabo”.
Digamos que não era propriamente fácil dizer a alguém que estávamos perante um problema que não conseguíamos explicar e que sabíamos que quase ninguém iria compreender.
Ainda assim, o conseguir olhar para mim próprio e aceitar e reconhecer a minha condição foi o primeiro e talvez o mais importante passo para procurar a ajuda que a minha mente tanto ansiava. Foi aí que comecei a conseguir descortinar como controlar os ataques de pânico.
A procura por Ajuda Profissional
A minha decisão de procurar um psicólogo apareceu após anos e anos de medicação, nomeadamente paroxetina e alprazolam em grandes quantidades, isto numa altura em que se acreditava que só a medicação fazia sentido na cura deste transtorno.
De facto, a medicação bloqueava alguns dos sintomas, mas também me bloqueava a alma. A ausência de sentimentos e a total abstração do mundo eram igualmente dolorosos.
Após vários desmames mal-sucedidos e após o nascimento do meu filho, e após uma noite de terror em que na minha mente a morte estava ali ao lado, decidi recorrer a psicoterapia, numa derradeira tentativa de controlar os ataques de pânico.
Encontrei uma profissional de saúde mental que me ajudou a perceber a raiz dos meus mais profundos medos, a entendê-los e aceitá-los.
É certo que não tive a cura imediata e que demorei algum tempo a ter claras melhorias, mas consegui aceitar a minha condição e perceber o porquê da existência dos ataques de pânico. Essa foi realmente a chave para controlar os ataques de pânico.
A Psicoterapia como Ferramenta de Transformação
A terapia com um psicólogo abriu as portas de um mundo novo para mim. Foi nesse espaço seguro, chamado consultório que comecei a desvendar as várias e profundas camadas dos meus medos, aprendendo a entender as suas origens e como eles se manifestavam através da ansiedade e dos ataques de pânico.
Cada sessão concluída era uma grande oportunidade para explorar e confrontar os traumas de infância e de adolescência, bem como as tristes experiências do passado, que tinham deixado marcas profundas na minha mente e que agora se expunham através do meu corpo.
Compreender os Gatilhos
Identificar os gatilhos específicos que despoletavam os meus ataques foi um processo bastante revelador. Descobri que as situações que me faziam sentir impotente ou lembranças de eventos traumáticos eram gatilhos comuns sempre que tinha crises.
Com essa aceitação e compreensão, desenvolvi estratégias adaptadas a mim próprio para conseguir enfrentar e gerir estas situações que me atormentavam diariamente e que me possibilitaram controlar os ataques de pânico.
Estratégias Práticas para Controlar os Ataques de Pânico
Além do trabalho com psicoterapia, adotei também várias estratégias práticas para lidar com os ataques de pânico. Estas técnicas em conjunto com a terapia, mostraram-se bastante eficazes no meu caso.
Técnicas de Respiração e Mindfulness
Aprendi técnicas de respiração profunda, que se tornaram essenciais para me ajudar a manter a calma durante um ataque de pânico. Controlar a respiração durante um ataque é vital para um controlo mais rápido e eficaz das crises.
A prática de mindfulness também me ajudou a permanecer agarrado ao presente, reduzindo a preocupação excessiva com o futuro imediato que frequentemente desencadeava os ataques. Fazer uma introspeção comigo próprio foi também muito eficaz na minha superação dos ataques de pânico.
Alterar o Estilo de Vida
Transformar meu estilo de vida foi outra mudança significativa.
No meu caso, introduzi uma rotina diária de passeios, onde me ajudou imenso ter cães como companhia, distraindo a mente dos pensamentos desviantes tentei estabelecer um horário regular de sono.
Estas mudanças, embora pareçam simples, tiveram um impacto profundo na minha saúde mental, reduzindo a frequência e a intensidade dos ataques de pânico.
Superar os Ataques de Pânico
O meu caminho para controlar os ataques de pânico foi repleto de altos e baixos.
No início tudo era medonho, inconsequente e sem sentido. A minha vida parecia querer acabar a cada segundo e os ataques de pânico apareciam a cada momento. Era angustiante! Não comia, não saia do quarto, não interagia… nada.
Houve momentos de progresso quando a medicação fazia efeito, mas também tinha recaídas frustrantes, principalmente quando fazia o desmame da medicação. Ainda assim, cada ataque enfrentado foi uma dura lição aprendida, fortalecendo minha resiliência e determinação perante a vida.
É possível superar os ataques de pânico!
A Importância do Apoio
Durante o meu trajeto com este transtorno, o apoio de alguns (poucos) amigos e familiares que foi importante. Sempre partilhei as minhas experiências e a minha luta perante os ataques de pânico e isso permitiu-me abrir novas formas de me apoiar e compreender este problema.
A incompreensão de quem me rodeava perante a minha condição era enorme, e quanto mais me diziam, “isso não é nada” ou “são coisas da tua cabeça” mais o transtorno agravava.
Dica para quem segue de perto alguém com este transtorno…
Nunca subestimem o sofrimento de quem está a ter uma crise de ansiedade ou um ataque de pânico!
Ler sobre o tema e procurar informação também me trouxe capacidade para enfrentar de frente os desafios que os ataques de pânico me trouxeram.
Saber que não somos os únicos e que é possível superar este transtorno é inspirador para prosseguirmos com a nossa luta.
A minha Mensagem de Esperança
Para todos que estão a enfrentar o desafio dos ataques de pânico, quero transmitir uma mensagem de esperança.
A superação é possível. Com as estratégias certas, apoio adequado, e uma vontade inabalável de melhorar, é possível retomar o controle da nossa vida e encontrar paz interior.
Faz atividades que te fazem feliz! Passeia, pinta, corre, escreve… faz algo que te faça sentir bem!
Cheira, sente, toca, vê! Desfruta e tenta ver tudo o que de bom te rodeia, por muito que por vezes pareça nada teres, garanto-te que algo terá, mesmo que não estejas a ver!
Não desistas
Lembra-te, a jornada de recuperação é única para cada pessoa e requer paciência, compreensão e persistência.
Encorajo-te a não desistir, mesmo quando o caminho parece incerto e sem fim. Acredita em ti mesmo e no teu poder de superação.
Conclusão
A minha história através dos ataques de pânico foi uma das partes mais desafiadoras e transformadoras da minha vida.
Ensinou-me o valor da saúde mental, a importância do apoio e a força da resiliência humana.
Posso dizer que sou uma pessoa mais forte mentalmente, resiliente perante as adversidades e com maior capacidade de análise perante o perigo… Mas também tenho as fraquezas que os ataques deixaram, ainda que as consiga combater com eficácia elevada.
Espero que ao partilhar o meu caminho, possa inspirar outros a procurar a ajuda de que precisam e acreditar na sua própria capacidade de superação.
E lembra-te: “A ansiedade e os Ataques de Pânico são apenas capítulos e não a história completa…”